IMS São Paulo

São Paulo, 2011 - 2017

Projeto Premiado

+ INFO
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Localização

Estratégia

Envelope

Esqueleto

Estrutura da fachada

Térreo: acesso, restaurante

Primeiro pavimento: biblioteca, administração

Segundo pavimento: salas de aula

Terceiro pavimento: auditório, foyer

Quarto pavimento: cabine de projeção

Quinto pavimento (térreo elevado): recepção, café, loja

Sexto pavimento: exposição temporária

Oitavo pavimento: exposição temporária

Nono pavimento: exposição permanente

Cortes longitudinais

Elevação sudoeste

Elevação sudeste

Memorial

A criação de um novo museu é sempre um acontecimento extraordinário. A importância dos centros culturais para as cidades e seus habitantes é evidente – estamos pensando, é claro, nos bons exemplos. O papel que desempenham nas cidades contemporâneas é fundamental, não só por promover os eventos ligados à arte e à cultura, mas sobretudo por trazer interesse e vitalidade aos espaços urbanos.

É neste contexto que surgirá a nova sede do IMS. Uma instituição já consolidada e de presença marcante no cenário cultural brasileiro. Detentora de um precioso acervo e com uma vasta experiência na promoção de exposições e de eventos culturais, o IMS realmente não tem, hoje, um espaço expositivo em São Paulo condizente com suas possibilidades. A nova sede irá suprir a necessidade concreta por mais espaço, mas certamente deverá ser muito mais do que isso: ela nasce, sobretudo, da vontade de se criar um lugar que represente os valores e que transmita o espírito da instituição. O museu surge de dentro para fora e por esta razão a nova sede deve também ser pensada assim, tendo como motivação principal constituir-se em plataforma programática e simbólica para o IMS.

Nesse sentido, imaginamos um museu acessível, ancorado no presente, que tenha uma relação franca e direta com a cidade e que, ao mesmo tempo, ofereça um ambiente interno tranqüilo e acolhedor; um museu capaz de equilibrar a vibração das calçadas com a natureza e a escala dos espaços museológicos, que exigem uma qualidade de luz e uma percepção do tempo muito particulares; um museu, enfim, de caráter marcante, que proporcione uma experiência única e pessoal para quem o visita.

Para que o edifício proposto reunisse essas qualidade, passamos à análise e interpretação de dois parâmetros fundamentais para a concepção do projeto: o programa e o contexto urbano. O que interessava aqui, para além dos complexos requisitos funcionais que se apresentavam, era determinar as articulações e as qualidades desejadas para os espaços internos do museu assim como definir que tipo de relação que se pretendia estabelecer entre o novo edifício e a cidade.

 

Programa

A partir da análise do programa elaboramos uma quantificação das áreas necessárias e um agrupamento dos espaços de acordo com a sua natureza, criando um gradiente que vai do mais aberto e permeável até o mais restrito e controlado. Este diagrama representa a intenção de reforçar as conexões e continuidades entre os programas abertos ao público e preservar a privacidade e o controle dos programas administrativos e de serviço. Como conseqüência deste raciocínio, devemos distribuir circulações separadas para o público, para as áreas administrativas e para carga e serviços.

Desta análise concluímos também que os espaços devem ser generosos, em especial nas áreas expositivas, dado o papel de protagonista que terão dentro do esquema do novo museu. Devem ser também flexíveis e ter o ambiente controlado, com as condições ideais para acomodar o acervo e as mais diferentes modalidades de exposição.

Com o objetivo de criar um grupo significativo de programa, reunimos o auditório, as salas de aula, o espaço multimídia e a biblioteca num corpo único e integrado, formando a nova Midiateca do Instituto. Este conjunto cria um contraponto importante para as salas de exposição, capaz de equilibrar as atenções dentro do museu. Assim, parte da biblioteca pode funcionar como espaço de convívio para quem freqüenta as salas de aula, assim como estas, quando integradas, transformam-se num pequeno auditório suspenso que se relaciona, simultaneamente, com a própria biblioteca e com o foyer. Foi nosso objetivo também aproximar as várias formas de expressão e de mídia, num espaço mais fluído e contínuo, sem que se perdessem as necessárias contenções para o bom funcionamento de cada um dos espaços.

 

Lugar

A Av. Paulista é um dos raros lugares da cidade em que encontramos uma enorme variedade de pessoas e programas convivendo num mesmo lugar. Um dos pouco lugares em que temos uma cidade mista, plural e mais democrática. Esta qualidade rara aliada à escala generosa e à situação geográfica privilegiada fazem da Av. Paulista um dos espaços mais interessantes e vivos de São Paulo.

Ajustando o foco para o entorno próximo do novo museu, identificamos algumas singularidades daquele pedaço da avenida. O cruzamento com a Av. da Consolação se traduz em grande movimento de veículos e de pessoas, em função da proximidade das diversas estações de metrô e do corredor de ônibus. A calçada, neste ponto, é mais estreita, por causa da presença do túnel logo em frente. Estamos bem no final da avenida, de onde se abre uma ampla visual para o vale do Pacaembu logo em frente e para a derivação do espigão da Dr. Arnaldo à esquerda. O Conjunto Nacional está a duas quadras dali; o MASP, um pouco mais à frente.

O lote , com 20 x 50 metros é plano e cercado por edifícios de 13 a 18 andares por todos os lados: uma fenda na seqüência de volumes perfilados ao longo da avenida. Uma localização realmente extraordinária. Por outro lado, quando nos colocamos dentro do lote, no nível da calçada, percebemos que o espaço oferece poucas aberturas e conexões com o entorno. As perguntas que fizemos no início desta análise se colocam novamente: qual é a relação que se quer estabelecer entre o museu e a cidade e de que maneira esta decisão repercute na articulação dos espaços internos do museu?

 

Partido

A solução encontrada foi transferir o térreo do museu – o seu principal elemento articulador – da base para o centro do edifício, quinze metros acima do nível da Av. Paulista, criando uma relação totalmente nova e aberta entre o museu, a cidade e seus habitantes. Com esse deslocamento, saímos de uma condição claustrofóbica e restrita imposta pelos limites do lote, para conquistarmos a vista da cidade, ao mesmo tempo em que criamos a possibilidade de uma nova articulação dos espaços internos do museu.

Esta operação tem como conseqüência também liberar o nível da Av. Paulista para que ela funcione, em conjunto com o primeiro sub-solo, como uma plataforma de distribuição das diversas circulações que alimentam o edifício. Concebido como um grande hall urbano, o nível da Av. Paulista se converte em extensão da calçada, conduzindo o visitante através das escadas rolantes e de elevadores até o coração do edifício. Nesta transferência, que remete aos deslocamentos tão familiares das estações de metrô logo ao lado, ocorre uma primeira transição da escala da cidade para a escala do museu. Durante o percurso, os sons e a agitação vindos da rua vão se atenuando, a intensidade e a natureza da luz se alteram, até que se chega ao térreo elevado, de frente para a cidade, que se abre numa perspectiva totalmente renovada. Liberado do confronto demasiadamente próximo e direto com a rua, foi possível criar um espaço vibrante e cheio de energia, mas ajustado à intensidade e ao ambiente desejados para o museu. A escala e o tempo mudaram. Estamos dentro do novo IMS.

Como foi dito, com essa transferência reequilibramos o centro de gravidade do edifício, aproximando os principais programas do térreo. Este resultado, mais uma vez, vai além dos aspectos meramente funcionais. Trata-se de ajustar os percursos e os deslocamentos para a escala e o tempo que são os mais pertinentes para o museu. A partir do térreo elevado, a percepção que o visitante tem dos espaços de programa é clara e direta. O térreo em si foi transformado em praça de convívio e de distribuição, que conta ainda com o café/restaurante e a loja; acima desta praça, pairando sobre ela, estão os espaços expositivos, protegidos num volume fechado; abaixo, estão agrupados os programas da Midiateca, que funcionam como um grande espaço de encontro dedicado ao cinema, à música, à literatura e, de maneira mais geral, à pesquisa e à produção de conhecimento.

A administração está localizada no topo do edifício, para preservar sua autonomia. Por outro lado, um canal de circulação exclusivo conecta seus espaços com os outros níveis do edifício, desde o estacionamento até as exposições. No outro extremo, no nível da Av. Paulista, localizamos o espaço de guarda temporária das obras de arte. Estrategicamente localizado junto aos canais de carga e descarga, este espaço tem a função de acolher as obras – antes e depois das montagens – e de prepará-las para as exposições e para o transporte. Dado o caráter estratégico que a Reserva tem para o museu, imaginamos que seria interessante que o movimento de chegada e saída das obras ficasse visível, de forma controlada é claro, para quem acessa o nível da Av. Paulista. A Reserva está ligada ao restante do prédio por meio de um amplo elevador de carga.

 

Edifício

A espacialidade do museu é dada e percebida sobretudo a partir dos vazios do edifício, que são os espaços de circulação e encontro que se espalham entre os volumes de programa e a fachada do edifício. A materialidade da fachada – feita com um vidro translúcido autoportante – confere uma qualidade de luz que corresponde exatamente ao que pretendíamos desde o início do projeto, quando imaginávamos o interior do museu como um remanso – um espaço tranqüilo e acolhedor, que, por outro lado, mantém latente a energia que o formou. Da mesma maneira, a luz que toma conta desses espaços carrega com ela o rastro da cidade, trazendo para o interior do museu a memória do mundo que está a sua volta.

A escolha de alguns materiais reforça este desejo de construir relações significativas com a cidade. No térreo elevado, recuperamos o piso de mosaico português que por muito tempo foi usado nas calçadas da Av. Paulista. Por outro lado, usamos o material de que são feitas as calçadas hoje para cobrir todo o piso do museu no nível da rua, de tal maneira que tenhamos um espaço contínuo. Por fim, existe a questão de como o edifício se coloca na cidade. O uso do vidro translúscido como segunda pele faz com que o museu seja percebido como um volume bem definido, íntegro, com a força necessária para estabelecer o seu lugar em meio aos vizinhos e aos demais edifícios da Av. Paulista. Por outro lado, as suas propridades de luz e de translucidez criam para o edificio um segundo registro, que é mutável em função da natureza do ambiente e da posição do observador. Como resultado, o interior do museu se manifesta sutilmente no espaço urbano.

Ficha Técnica

Projeto

Instituto Moreira Salles

Local

São Paulo – SP

Área construída

8.662m2

Ano de concurso

2011

 

Equipe de concurso

Andrade Morettin Arquitetos

Beatriz Moretti, Fábio Ucella, Flora Fujii, Gabriel Sepe, Júlio Beraldo, Lauro Rocha e Valeria Mónigo

Consultores

Museologia

Álvaro Razuk

Desempenho ambiental e eficiência energética

Andrea Vosgueritchian

Estrutura

Ycon / Yopanan Rebello

Fundações

Geraldo Moretti e Cláudio Wolle

Hidráulica, elétrica e ar condicionado

Grau / Douglas Cury

Acústica

Gustavo Nepomuceno

Luminotécnica

Carlos Albert Kaiser

Conservação

Ilo Codognotto

Legislação

Sílvia Helena

Vídeo

Bijari

 

Equipe de projeto

Andrade Morettin Arquitetos

Adriane De Luca (coord.), Raphael Souza (coord.), Carlos Eduardo Miller, Felipe Fuchs, Fernanda Carlovich, Fernanda Mangini, Gabriel Sepe, Jaqueline Lessa, Melissa Kawahara

Estagiários

Eduardo Miller, Guilherme Torres

Estrutura

Ycon Engenharia / GOP

Fundações

Moretti Engenharia Consultiva

Elétrica

LZA Engenharia

Fachada

Front Inc. / Grupo Galtier

Climatização

Greenwatt Consultores de Energia

Segurança contra incêndio

GPIC / LZA Engenharia

Automação, telecomunicação e audiovisuais

GPIC

Legislação

Urbem Arquitetura

Acústica

Harmonia Acústica / Akkerman, Holtz

Luminotécnica

Peter Gasper & Associados / Lux Projetos

Impermeabilização

PROASSP Project Management and Consulting

Elevadores

Empro Comércio e Engenharia em Transporte Vertical

Segurança

Fleury Consultores

Programação visual

Quadradão

Restaurante e café

Walderez Nogueira Soluções Gastronômicas

Coordenação do empreendimento

Canal & Musse

Construção

All’e Engenharia

Premiação

Concurso Instituto Moreira Salles São Paulo - 1° Prêmio, 2011
Prêmio IABsp “Edificação Institucional Executada” - 1º Prêmio, 2018
Prêmio AsBEA - 1º Prêmio, 2018
Prêmio Mies Crown Hall Americas - Finalista, 2018
Prêmio “Obra de Arquitetura em São Paulo 2017” pela APCA - 1º Prêmio, 2018
Prêmio “Obra do Ano” pelo ArchDaily Brasil - 3º Prêmio, 2018

Publicações

  • Monolito 8 | Concurso Instituto Moreira Salles, São Paulo, Brasil, Editora Monolito, 2012
  • Projeto Design 404, São Paulo, Brasil, Arco Editorial, 2013
  • Projeto Design 408, São Paulo, Brasil, Arco Editorial, 2014